sábado, 9 de julho de 2011

Colheita de Mosquitos Imaturos e Mosquitos Adultos

No decorrer da penúltima semana de estágio realizamos uma actividade bastante interessante da qual ainda não tinha tido a oportunidade de desenvolver. Esta actividade consistiu na colheita de mosquitos e de larvas. Foi uma experiência muito enriquecedora e que gostei bastante de realizar e observar.
Este tipo de colheita esta englobada no programa Rede de Vigilância de Vectores (REVIVE) – Mosquitos que propõe a instalação de capacidades que levem ao conhecimento de que espécies de vectores estão presentes, e onde, e assim esclarecer o seu papel como vector de agentes de doença.
As doenças transmitidas por vectores têm emergido, ou reemergido, como resultado de alterações climáticas, demográficas e sociais, alterações genéticas nos agentes patogénicos, resistência dos vectores a insecticidas e inversão da importância dada à resposta à emergência em detrimento da prevenção. Existe uma preocupação crescente das autoridades de saúde europeias com a probabilidade de introdução de novos vectores em determinadas zonas geográficas, assim como a possibilidade de surgimento de surtos inesperados e provocados por agentes etiológicos que nunca estiveram presentes ou há muito tempo estavam esquecidos na realidade europeia.
Os culicídeos (mosquitos) são insectos pertencentes à ordem Diptera conhecidos por picarem e causarem incómodo ao Homem. As doenças transmitidas por mosquitos já constituíram graves problemas de Saúde Pública na Europa. Doenças como a malária, dengue e febre amarela foram erradicadas da Europa em meados do século XX, continuando, no entanto, a existir em muitas zonas as espécies de mosquitos responsáveis pela transmissão destas patologias. Actualmente, na Europa, são conhecidas encefalites virais transmitidas por mosquitos.
A maior parte dos agentes de doença transmitidos por vectores exibem um padrão sazonal distinto, o que sugere, muito claramente, que os parâmetros climáticos são importantes na epidemiologia das doenças transmitidas por vectores. Alguns factores climáticos como a temperatura, precipitação, humidade e a velocidade e direcção do vento influenciam fortemente a ecologia, desenvolvimento, comportamento e sobrevivência dos vectores e hospedeiros, e consequentemente a dinâmica da transmissão da doença.
Em Portugal, as projecções indicam que, nos próximos 50 anos, um em cada cinco dias poderá ter temperaturas superiores a 35ºC. Relativamente à precipitação, as projecções apontam para um clima mais seco, com um período húmido mais curto e mais intenso, seguido de uma época quente mais longa. Assim, prevê-se uma maior frequência de períodos de seca que afectará essencialmente a zona sul do País. Estas alterações da frequência e da intensidade dos fenómenos climáticos e meteorológicos extremos constituem um grave risco para a saúde humana, destacando-se os aumentos potenciais de mortes relacionadas com o calor, de doenças transmitidas pela água e pelos alimentos, de problemas relacionados com a poluição atmosférica e do risco de doenças transmitidas por vectores.
Para determinar a potencial incidência destas doenças, é necessário identificar e determinar a prevalência destes vectores. Factores como a temperatura, a chuva, os ventos, os ciclos de vida dos vectores, as flutuações sazonais nas populações de vectores, entre outros, são aspectos relevantes a ter em consideração.
Assim antes de realizar a colheita de mosquitos importa tem em atenção o local onde será colocada a armadilha, de forma a poder apanhar o número máximo de mosquitos e qual o risco associado à presença de cada um deles no território português. Irei de seguida evidenciar os passos que a colheita de mosquitos imaturos (larvas) e de mosquitos adultos passam até serem capturados.
Recolha de mosquitos imaturos (Larvas)
Para esta recolha foi utilizado um camaroeiro para poder capturar as larvas. Coloca-se água (local de amostragem) num recipiente e, depois à medida que é feita a recolha das larvas, estas vão sendo colocadas no seu interior. Quando é atingido o número pretendido de larvas, estas são passadas para recipientes apropriados para esta actividade. Todo este processo pode ser observado através das seguintes imagens.
No final da captura é preenchido o boletim para depois enviar a colheita para o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
Recolha de mosquitos adultos
Primeiramente é verificado qual o local mais apropriado e que reúne as condições ideais (temperatura, vento, precipitação, humidade, etc.) para que sejam colocados os meios de captura para esta recolha. Para isso, foram utilizados como meios de captura dos mosquitos adultos a armadilha CDC light-trap e o gelo seco (CO2). A armadilha CDC light-trap possui uma fonte de luz que é constituída por uma lâmpada do tipo tubular, de baixo consumo que emite uma radiação luminosa de alta intensidade. O posicionamento da lâmpada proporciona uma extensa e eficiente área de captura, atraindo assim os mosquitos que se encontram presentes nos arredores. Quando os mosquitos entram são imediatamente aspirados para o saco. O gelo seco (CO2) foi colocado junto à armadilha para ajudar a atrair os mosquitos.
Estas armadilhas foram colocadas no final da tarde e recolhidas na manhã seguinte. Para ser mais fácil de compreender como foi realizada esta captura, deixo agora algumas imagens.
Após a recolha é preenchido o boletim para ser enviado para o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge juntamente com a amostra obtida. Os mosquitos imaturos e os mosquitos adultos são acondicionados na refrigeração até serem encaminhados para o respectivo local.
Fonte: Programa Nacional de Vigilância de Vectores Culicídeos (2009) e http://www.insa.pt/
Esta experiência foi bastante gratificante pois tive a possibilidade de conhecer técnicas e procedimentos, dos quais ainda não tinha tido contacto. Os Técnicos de Saúde Ambiental são responsáveis pela execução destas colheitas, de maneira a contribuir na procura das mais variadas espécies de mosquitos presentes nesta área.

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