Bem-vindos leitores J
Irei começar com a descrição das actividades relativas a esta semanita de trabalho no Centro de Saúde de Moura e Barrancos.
Esta semana iniciou com a colheita de água a vários locais, como por exemplo a piscinas, a turismo rural bem como a outros pontos de colheita. A realização destas colheitas é fundamental para a determinação de parâmetros físico-químicos e microbiológicos. Assim, e de acordo com os resultados que recebemos do Laboratório é possível verificar se o local onde a colheita foi realizada apresenta algum incumprimento.
Compete às autoridades de saúde “vigiar o nível sanitário dos aglomerados populacionais, dos serviços, estabelecimentos e locais de utilização pública e determinar as medidas correctivas necessárias á defesa da saúde pública.” (Decreto-Lei n.º 82/2009 de 2 de Abril)
Em relação às acções de vigilância sanitária, a autoridade de saúde deve informar a entidade gestora dos incumprimentos aos valores paramétricos detectados. Quer os valores paramétricos tenham ou não sido respeitados, sempre que a autoridade de saúde verifique que a qualidade da água distribuída constitui um perigo potencial para a saúde humana, deve em articulação com a entidade gestora, determinar as medidas a adoptar para minimizar tais efeitos, nomeadamente a determinação da proibição ou restrição do abastecimento e a informação e o aconselhamento aos consumidores, delas dando conhecimento à autoridade competente.
É de elevada importância os serviços de saúde pública assegurarem a vigilância sanitária da qualidade da água, de maneira a evitar o aparecimento de doenças de origem hídrica, salvaguardando assim o risco para a saúde pública. Também pode ser transmitido à população/consumidores informações sobre eventuais medidas de correcção básicas que estes possam adoptar nas suas casas.
De acordo com um estudo que tive a oportunidade de verificar achei pertinente colocar aqui parte da informação que constatei na página da internet do jornal público. Este estudo foi divulgado pela Associação de Defesa do Consumidor (DECO) na revista Proteste relativo à qualidade da água imprópria para consumo em fontanários. Foram efectuadas análises a 35 fontanários onde 1 em cada 3 continha água de má qualidade. Assim, constatou-se que a água de 12 dos 35 fontanários é imprópria para consumo. “Em Caneças, Odivelas a água excede o limite máximo de chumbo e alumínio. Em Abrantes detectámos valores elevados de manganês, metal pesado perigoso por acumular-se no organismo. Nos restantes 10 (Almeida, Baião, Beja, Elvas, Loulé, Nisa, Santarém, Santiago do Cacém, Vale de Cambra e Santa Maria de Viseu) a principal razão deve-se a contaminação bacteriológica por E.Coli, Enterococus, Clostridium Perfringens ou Coliformes Fecais.” Este tipo de microrganismos habita nos intestinos de animais de sangue quente como o Homem. Febre, diarreia e vómitos são sintomas comuns, típicos de gastroenterite e intoxicação alimentar. Infecções urinárias e, mais raramente endocardite bacteriana, são também efeitos. As crianças, os idosos e os indivíduos debilitados podem ser os mais afectados. “Quando a água se revelou imprópria por contaminação bacteriológica, dispensámos a pesquisa dos parâmetros físico-químicos e dos pesticidas. Informámos as entidades responsáveis: câmaras municipais, juntas de freguesia e autoridades regionais de saúde. Sete anos após o último estudo (Teste Saúde n.º 50, Agosto de 2004), voltámos a estudar os 18 fontanários que revelaram água contaminada: 7 continuam a fornecer água inapta para beber sem indicarem o facto.”
Posto isto, é fundamental não desvalorizar os avisos que se encontram junto dos fontanários, como por exemplo “água não controlada” ou “água imprópria para consumo”. Estas placas estão presentes nestes locais porque a água não é própria para beber. Em alternativa pode sempre recorrer a água da rede pública de abastecimento, pois esta é sujeita a análises regulares e apresenta garantias de estar apta para consumo.
“Numa fonte privada, furo ou poço, e dada a possibilidade de contaminação, realize análises periódicas para avaliar a qualidade e assegurar a inexistência de perigo para o utilizador.”
Para concluir este tema, lembre-se sempre que quando ingere esta água esta a colocar em risco a sua saúde, uma vez que a água não tem ligação à rede pública, e dessa forma não possui qualquer tipo de tratamento ou controlo. Evite a não utilização/consumo deste tipo de água, assim está a prevenir o seu organismo para possíveis doenças que podem advir do consumo dessa água.
Uma experiência totalmente diferente e que nunca tinha tido a oportunidade de realizar foi a colheita de carraças na vegetação e nos hospedeiros. No âmbito do projecto REVIVE – Rede de Vigilância de Vectores: Vigilância de Ixodídeos que tem como objectivo estudar as carraças que transmitem ao Homem Rickettsia conorii (Rhipicephalus sanguineus) e Borrelia burgdorferi s.l. (Ixodes ricinus) e como as primeiras estão activas sobretudo nas estações da Primavera e do Verão e as segundas durante a Primavera, Outono e Inverno as colheitas devem ser efectuadas periodicamente durante todo o ano.
Fazendo um enquadramento sobre este tema importa referir que os ixodídeos são vulgarmente designados por carraças são vectores de agentes que causam a doença nos animais e no Homem. Os ixodídeos são considerados imediatamente a seguir aos mosquitos os artrópodes mais importantes associados à transmissão de agentes infecciosos. Cada espécie de carraça pode transmitir um ou vários agentes infecciosos que causam a doença no homem entre as quais pode destacar-se a borreliose de Lyme e a febre escaro-nodular, habitualmente chamada de febre da carraça, que em Portugal é a doença de notificação obrigatória associada a vectores com maior casuística.
Os ixodídeos podem ser veículo de vírus e fungos que podem afectar o Homem e os animais domésticos. É necessário denotar que quando falamos de carraças devemo-nos lembrar que são parasitas de animais domésticos e que estes viajam de uma região a outra, implicando importações ocasionais de espécies de carraças de outras regiões e consequentemente dos agentes infecciosos que albergam. Todas as espécies de carraças necessitam de ingerir sempre uma quantidade mínima de sangue para poderem realizar uma muda e passar à fase evolutiva seguinte do seu ciclo de vida. A maior parte das espécies demoram vários dias a completar a refeição sanguínea, em média 2-5 dias nas larvas, 3-5 dias nas ninfas e 7-14 dias no caso dos adultos. Todas as espécies de carraças reproduzem-se por da postura de ovos. A fêmea põe uma quantidade variável de ovos, que oscilam entre algumas centenas a milhares consoante a espécie considerada, como se pode verificar através da imagem seguinte.
A colheita de carraças deve ser realizada na sua fase de vida livre (sobre a vegetação) e na sua fase parasitária (sobre o hospedeiro). A colheita nestas duas espécies tem como intuito estudar a prevalência de infecção nas populações de vectores, os hospedeiros principais a incluir no estudo são o homem e os cães, devido à grande proximidade que têm ao Homem.
De referir que a colheita que realizamos serviu apenas para podermos treinar a técnica utilizada e ficarmos informadas sobre este projecto. De seguida irei descrever o material utilizado e os procedimentos para cada colheita.
Colheita de carraças na vegetação
Objectivo: Consiste na colheita de carraças na vegetação.
Técnica: Flagging (ou bandeira branca).
Material:
* Bandeira para colheita na vegetação;
* Pinças;
* Luvas;
* Contentores adequados que possuem tubos plásticos com rolha (em casos excepcionais poderão ser garrafas de água secas ou tubos com álcool);
* Boletim de Colheita que deve ser preenchido para cada local em que se efectua a colheita.
Procedimento:
1- Passar um pano turco, de cor branca sobre a vegetação;
2- A uma velocidade constante em linhas de aproximadamente 100m;
3- A cada cinco passos é necessário verificar se existem carraças agarradas ao pano para evitar que se soltem;
4- As carraças removidas devem ser colocadas em tubo rolhado, contendo algumas ervas tipo relva para manter a humidade até à chegada ao laboratório;
5- Colocar não mais do que 20 indivíduos por tubo em cada área rastreada. Identificar os tubos com o número do boletim respectivo;
6- Caso a entrega ao laboratório não seja imediata, as carraças devem ser mantidas em condições de refrigeração (por exemplo no frigorífico na prateleira destinada aos vegetais).
Nota: As toalhas devem ser lavadas após cada utilização, para tal a toalha deve ser desmontada, de seguida deve proceder-se à remoção do atilho e depois serão retirados todos os resíduos. A lavagem deve ser efectuada entre 40-60ºC sem adição de detergente e repetida se necessário.
Colheita de carraças nos hospedeiros
Objectivo: Consiste na colheita de carraças fixas em animais domésticos, silváticos ou no Homem.
Técnica: Remoção directa em hospedeiros.
Material:
* Pinças;
* Luvas;
* Contentores adequados que possuem tubos plásticos com rolha (em casos excepcionais poderão ser garrafas de água secas ou tubos com álcool);
* Boletim de Colheita que deve ser preenchido para cada local e data.
Procedimento:
1- Prender a carraça com uma pinça ou então com o polegar e o indicador utilizando algodão, papel ou luvas para evitar o contacto directo com a pele;
2- Tão próximo do local de inserção na pele quanto possível, rodar ligeiramente a carraça e puxar com uma força constante até que esta se solte;
3- As carraças removidas devem ser colocadas num tubo rolhado, contendo algumas ervas tipo relva para manter a humidade até à chegada ao laboratório;
4- Colocar não mais do que 10 indivíduos ingurgitados por tubo e por animal rastreado;
5- Identificar os tubos com o número do boletim respectivo, sendo que se forem rastreados vários animais da mesma área cada tubo deve também mencionar qual a proveniência das carraças (por exemplo: nome do cão, nº de brinco de bovino, ovino, etc.);
6- Caso a entrega ao laboratório não seja imediata, as carraças devem ser mantidas em condições de refrigeração (por exemplo no frigorífico na prateleira destinada aos vegetais).
Nota: No caso do Homem deve desinfectar-se o local da picada e caso se registem alterações do estado de saúde como aparecimento de febre, manchas na pele, dores musculares, etc., deve consultar-se um médico. Pesquisar totalmente cada hospedeiro durante cerca de 3 a 5 minutos, contudo deverá ter especial atenção na região das orelhas, focinho, pescoço, dorso e ventre. Usar um tubo por cada hospedeiro pesquisado e identifica-lo correctamente.
Num procedimento normal os dados da colheita devem ser registados no Boletim de Colheita e enviados quer as amostras e este registo para o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. É importante que sejam registados todos os aspectos relacionados com a colheita, como o tipo de habitat, a descrição e caracterização do local da colheita (presença de animais de pasto ou domésticos), as coordenadas GPS de todos os locais de colheita, a temperatura máxima e mínima, a humidade, o vento e a chuva. Estes requisitos estão presentes no Boletim de Colheita como se pode visualizar de seguida.
Qualquer intervenção para controlar a população de carraças deverá começar com um programa de vigilância que vise a identificação das espécies existentes numa determinada área, com o estudo cartográfico e ecológico da área, e com o levantamento de hospedeiros vertebrados que possam servir de suporte alimentar às carraças. A pesquisa da presença de agentes infecciosos de interesse é muito importante para avaliar o risco associado a uma determinada área/espécie para finalmente se reunir as condições necessárias a uma intervenção integrada e eficiente.
Apesar de ser impossível erradicar as carraças, podemos pensar em medidas de controlo e de luta contra as carraças que impeçam a disseminação de pragas e o estabelecimento de novos focos de doença. O conhecimento das espécies ixodológicas, a sua distribuição geográfica e hospedeiros associados permite-nos estabelecer actividades de vigilância epidemiológica para que medidas de prevenção, controlo e mitigação possam ser implementadas atempadamente.
Fonte: Plano de Formação REVIVE – Carraças, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge
Ficam agora algumas imagens desta colheita de carraças que realizamos pela vegetação e pelos hospedeiros.
Ainda nesta semana realizou-se duas acções de sensibilização em Barrancos no Lar Nossa Senhora da Conceição, uma IPSS (Instituição Particular da Segurança Social), que realiza actividades de lar, centro de dia, apoio domiciliário e creche. Uma vez que neste local a população apresenta-se maioritariamente idosa, constatou-se a importância de realizar estas acções no Lar quer para os utentes, como para as funcionárias que diariamente estão junto dos idosos, e ainda para as funcionárias que realizam o apoio domiciliário, no sentido de poderem passar a informação às pessoas que se encontram nas habitações.
No período da manhã efectuou-se a acção intitulada “Quando o calor chega” cujo objectivo assentou na sensibilização da população alvo para a prevenção dos perigos que podem advir do calor durante o Verão no Alentejo, mais concretamente em Barrancos que apresenta temperaturas bastantes elevadas nos meses mais quentes.
Neste sentido pretendeu-se promover a protecção da saúde das populações contra os efeitos negativos que o tempo mais quente pode provocar, sensibilizando a população sobre os cuidados a ter quando chegam as temperaturas altas.
Fazendo um enquadramento sobre o tema do calor, importa referir que em 1877, Downes e Blunt descobriram que a luz solar tem a capacidade de destruir as bactérias e limpar o organismo, sendo identificada como um dos melhores desinfectantes e assassino de germes. Até 1940, quando os antibióticos se começaram a generalizar, a terapia da luz, realizada através do Sol, assumiu uma importância bastante grande.
Por isso mesmo, diz-se que apanhar Sol nos horários correctos faz muito bem a saúde e é indispensável. Para além desse facto é importante referir que o Sol é uma fonte de vitamina D e quando estamos expostos ao Sol o organismo absorve esta vitamina. A vitamina D, ao ser absorvida pelo organismo, ajuda a combater doenças como o raquitismo, a osteoporose (que afecta a terceira idade) e também é óptima na prevenção de alguns tipos de cancro, como: o cancro da mama, ovário,colo do útero e até o cancro da próstata. A vitamina D é responsável por manter os ossos fortes, o funcionamento dos sistemas imunológico, cardíaco, neurológico e também de toda a musculatura do corpo.
No entanto, é necessário seguirmos bastantes precauções, uma vez que com a chegada das alterações climáticas o Sol, apesar de benéfico, traz consigo na maioria das situações bastantes complicações para a Saúde, sendo muitas delas a visíveis a longo prazo. As alterações climáticas, designadamente os fenómenos climáticos extremos, constituem uma nova categoria de perigo para a saúde pública, em que prevalecem as mudanças sistemáticas induzidas pelo homem no sistema natural, sendo actualmente incontestável o aquecimento global do planeta.
Nos últimos anos, aumentaram na Europa as preocupações políticas, sociais, ambientais e de saúde pública dos fenómenos climáticos extremos.
Segundo a Agência Europeia do Ambiente (AEA), o aquecimento global na Europa vai ser superior à média mundial, sendo mais afectados os países do sul, na Bacia Mediterrânica.
As ondas de calor e outros fenómenos climáticos extremos, tais como as cheias e as secas, serão cada vez mais frequentes e de maior intensidade.
A 4ª Conferência Ministerial Ambiente e Saúde (Budapeste, 2004), promovida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), prestou particular atenção às alterações climáticas e reforçou a necessidade de que fossem adoptadas, pelos diferentes países, linhas de actuação com vista a redução da morbilidade e mortalidade que lhes estão associadas.
Desde 2004 que a OMS tem em curso o Projecto EuroHEAT, cujo objectivo geral é melhorar as respostas de saúde pública a fenómenos climáticos extremos em geral e a ondas de calor em particular.
Em Portugal, as projecções indicam que nos próximos 50 anos, um em cada cinco dias poderá ter temperaturas superiores a 35ºC (Climate Change in Portugal. Scenarios, Impacts and Adaptation Measures – SIAM) e que, a médio e longo prazo, as Ondas de Calor (OC), como a verificada em 2003, com a qual se associou um excesso de mortalidade de mais 1953 óbitos, 89% dos quais em indivíduos com idades iguais ou superiores a 75 anos de idade, poderão ser mais frequentes (Direcção Geral da Saúde – DGS, Instituto Nacional de Saúde – INSA/Observatório Nacional de Saúde – ONSA).
Interessa mencionar que em situações extremas de exposição ao calor intenso, particularmente durante vários dias consecutivos, podem surgir doenças, como por exemplo:
º Cãibras por calor – são as doenças mais leves provocadas pelo calor. As cãibras provocadas pelo calor são marcadas por intensos espasmos musculares, mais especificamente nas pernas, nos braços e no abdómen. A consequência nefasta desta doença consiste na redução de líquidos e sódio e é mais comum entre indivíduos que não estão completamente aclimatizados para realizar a actividade muscular intensa quando estão expostos ao calor, como é o como dos profissionais que trabalham ao calor.
º Esgotamento devido ao calor – é uma consequência da alteração do metabolismo hidroelectrolítico provocada por uma excessiva perda de água e electrólitos devido à transpiração. Os sintomas associados ao esgotamento por calor são:
Ÿ Cãibras musculares;
Ÿ Cansaço;
Ÿ Fraqueza;
Ÿ Desmaio;
Ÿ Náuseas e vómitos;
Ÿ Respiração rápida e superficial;
Ÿ Grande transpiração;
Ÿ Palidez
Ÿ Pele fria e húmida;
Ÿ Pulso fraco e rápido;
Ÿ Dor de cabeça.
º Golpes de calor – é o resultado de uma insuficiência aguda da termorregulação e constitui uma urgência médica extrema, de ocorrência súbita e fatal se não for tratada rapidamente. Ocorrência como isquemia do miocárdio, choque, arritmia, insuficiência renal, síndrome de dificuldade respiratória do adulto, insuficiência hepática ou comprometimento neurológico, levam à mortalidade de 10 % dos doentes. Com um tratamento rápido as complicações são raras. No entanto, o golpe de calor é a situação mais grave e pode provocar danos irreversíveis à saúde e até levar à morte.
Os efeitos das temperaturas elevadas e das ondas de calor dependem do nível de exposição (frequência, gravidade e duração), do tamanho da população exposta e da sensibilidade que a população tem face a esta exposição.
Em relação aos grupos de risco, é de referir que qualquer pessoa pode ser susceptível aos efeitos do calor, mas as pessoas que estão mais vulneráveis/sensíveis são:
Ê Crianças nos primeiros anos de vida;
Ê Pessoas idosas;
Ê Portadores de doenças crónicas (cardiovasculares, respiratórias, renais, diabetes e alcoolismo);
Ê Pessoas obesas;
Ê Pessoas acamadas;
Ê Pessoas com problemas de saúde mental;
Ê Trabalhadores expostos ao sol e/ou calor.
Desta forma, revelou-se algumas recomendações enunciadas pela Direcção-Geral da Saúde relativamente aos efeitos do calor intenso:
ü Ingestão de água ou sumos de fruta natural sem adição de açúcar, mesmo sem ter sede. Evitar a ingerência de bebidas alcoólicas;
ü As pessoas que sofram de doenças crónicas ou que estejam a fazer uma dieta com pouco sal ou com restrição de líquidos devem aconselhar-se com o seu médico ou contactar a Linha Saúde 24 - 808 24 24 24;
ü Devem fazer-se refeições leves e mais frequentes. São de evitar as refeições pesadas e muito condimentadas;
ü Permanecer duas a três horas por dia num ambiente fresco, ou com ar condicionado, pode evitar as consequências nefastas do calor, particularmente no caso de crianças, pessoas idosas ou pessoas com doenças crónicas. Se não dispõe de ar condicionado, visite centros comerciais, cinemas, museus ou outros locais de ambiente fresco. Evite as mudanças bruscas de temperatura;
ü No período de maior calor tome um duche de água tépida ou fria. Evite mudanças bruscas de temperatura (um duche gelado, imediatamente depois de se ter apanhado muito calor, pode causar hipotermia, principalmente em pessoas idosas ou em crianças);
ü Evite a exposição directa ao sol, em especial entre as 11 e as 17 horas. Sempre que se expuser ao sol ou andar ao ar livre, use um protector solar com um índice de protecção elevado (igual ou superior a 30) e renove a sua aplicação sempre que estiver exposto ao sol (de 2 em 2 horas). Quando regressar da praia ou piscina volte a aplicar protector solar, principalmente nas horas de calor intenso e radiação ultravioleta elevada;
ü Ao andar ao ar livre, deve usar roupas que evitem a exposição directa da pele ao sol, particularmente nas horas de maior incidência solar. Deve utilizar chapéu, de preferência com abas largas, e óculos que ofereçam protecção contra a radiação UVA e UVB;
ü Evite a permanência em viaturas expostas ao sol, principalmente nos períodos de maior calor, sobretudo em filas de trânsito e parques de estacionamento. Se o carro não tiver ar condicionado, não feche completamente as janelas. Sempre que possível viajar de noite;
ü Sempre que possível, diminuir os esforços físicos e repousar frequentemente em locais à sombra, frescos e arejados. Evitar actividades que exijam esforço físico;
ü Usar roupa larga, leve e fresca, de preferência de algodão;
ü Usar menos roupa na cama, sobretudo quando se tratar de bebés e de doentes acamados;
ü Evitar que o calor entre dentro das habitações. Correr as persianas ou portadas e manter o ar circulante dentro de casa. Ao entardecer, quando a temperatura no exterior for inferior àquela que se verifica no interior do edifício, provocar correntes de ar, tendo em atenção os efeitos prejudiciais desta situação;
ü Não hesitar em pedir ajuda a um familiar ou a um vizinho no caso de se sentir mal com o calor;
ü As pessoas idosas não devem ir à praia nos dias de grande calor. As radiações solares podem provocar queimaduras da pele, mesmo debaixo de um chapéu-de-sol. A água do mar e a areia da praia também reflectem os raios solares e estar dentro de água não evita as queimaduras solares das zonas expostas. As queimaduras solares diminuem a capacidade da pele para arrefecer.
O Ministério da Saúde, atento a este problema, mas também aos problemas relacionados com o frio tem em funcionamento desde 2011, o Plano de Contingência para as Temperaturas Extremas Adversas renovado todos os anos de modo a estar sempre actualizado, com vista a mitigar os efeitos negativos na saúde pública.
Denota-se que a gestão do risco para a saúde das populações associado às ondas de calor constitui um problema transversal à sociedade, obriga à mobilização não só das estruturas de Saúde mas também de todas as entidades com responsabilidade na protecção das populações. Assim, é de extrema importância a prevenção, para que este tipo de situações não ocorra com tanta frequência.
E sendo, por isso mesmo, os idosos um grupo de risco que implica mais cuidados e medidas de protecção mais alargadas considerou-se que seria bastante pertinente a abordagem deste tema no Lar Nossa Senhora da Conceição em Barrancos. De referir que no final da sessão distribuímos um folheto sobre esta tema e realizamos os diplomas de participação para os intervenientes nesta acção.
Na parte da tarde foi altura de realizar a acção sobre os cuidados a ter na habitação de cada pessoa denominada de “Como prevenir os acidentes domésticos?”.
Com esta apresentação pretendeu-se sensibilizar o público-alvo para a prevenção de quedas e de outros acidentes que os idosos possam acontecer nos locais onde habitam. Durante a apresentação foram relatadas algumas medidas de prevenção e controlo dos perigos existentes nas habitações, detalhando as recomendações que devem ser adoptadas em cada divisão.
Devido à pertinência deste tema, verificou-se que seria importante o mesmo ser debatido neste local. De acordo com os vários estudos já efectuados, foi possível constatar no Observatório Nacional de Saúde, que no ano de 2002 ocorreram cerca de 750000 acidentes domésticos e de lazer em Portugal Continental. Verificou-se que cerca de 15% dos acidentes ocorreram em pessoas com mais de 65 anos, os quais foram três vezes mais frequentes nas mulheres do que nos homens. E ainda no grupo etário de 65 anos e mais, a grande maioria dos acidentes ocorre em casa, uma percentagem superior a 65%, e numa percentagem significativamente inferior, na área dos transportes ocorre uma percentagem inferior a 13%.
Após ter sido realizado um enquadramento sobre o tema, evidenciou-se algumas recomendações úteis para as pessoas adoptarem no local onde vivem, sendo as seguintes:
Quarto
w Use uma mesa-de-cabeceira, de preferência, com bordas arredondadas e procure fixá-la ao chão ou à parede, para evitar que se desloque caso necessite apoiar-se nela;
w Os interruptores devem estar ao alcance da mão quando estiver deitado na cama, para evitar levantar-se no escuro;
w Procure utilizar uma cama larga, com altura suficiente para que, sentado, consiga apoiar os pés no chão, evitando tonturas e facilitando os movimentos. Ao deitar-se, utilize sempre uma almofada para apoiar a cabeça;
w Devem existir vários pontos de luz e uma luz de presença, que ajuda a iluminar o quarto caso se levante a meio da noite.
Cozinha
w Os armários não devem ficar em locais muito altos. Guarde os objectos que são pouco utilizados nos armários superiores e os de uso frequente, em locais de fácil acesso;
w Instale a botija de gás, sempre, fora da cozinha;
w Lembre-se de desligar fornos, microondas e ferros de passar roupa, após o uso.
Casa de Banho
w Utilize barras de apoio no polibã ou na banheira, bem como nas paredes próximas da sanita e do lavatório;
w Deve utilizar um banco de apoio no polibã ou na banheira, para evitar estar tanto tempo de pé e desequilibrar-se;
w Evite prateleiras de vidro e superfícies cortantes, e é absolutamente proibido usar esquentador a gás dentro da casa de banho;
w Nunca feche a porta da casa de banho à chave, para o caso de precisar de ajuda;
w Utilize sempre tapetes anti-derrapantes no banho, de preferência autocolantes em vez de ventosas.
Sala
w Procure utilizar cores claras nas paredes e aumentar a iluminação, tornando-a três vezes mais forte que o normal, para compensar dificuldades visuais;
w Opte por sofás e poltronas confortáveis, com assentos que não sejam demasiado macios, e que facilitem os actos de sentar e levantar;
w Utilize fita-cola de dupla face, para colar os bordos dos tapetes ao chão e limitar os tropeços.
Outras Recomendações
w Colocar a mobília de forma a permitir a circulação e evitar colisões;
w Não use camisolas e roupões compridos, para evitar tropeçar, principalmente se tiver que se levantar no meio da noite;
w Evite tapetes soltos no chão, principalmente nas escadas. Se usar, fixe-os ao chão;
w Importa ter uma boa iluminação nos corredores e nas escadas;
w Tenha em atenção se existem superfícies irregulares, como por exemplo tacos soltos. Deve repará-los de imediato;
w Nunca deixe fios eléctricos e de telefone desprotegidos. Prenda-os à parede ou ao chão, ou utilize calhas;
w Manter corrimãos nas escadas e os degraus devem ter fita antiderrapante;
w Retire os objectos desnecessários (papéis, revistas, caixas, sapatos e outros) do chão, tenha especial atenção quando há crianças em casa devido aos brinquedos que deixam espalhados;
w Manter o telefone num local de fácil acesso e com os números de emergência gravados (112, bombeiros, centro de saúde local, etc.) ou registados num papel;
w Nunca deixe fios eléctricos e de telefone desprotegidos. Prenda-os à parede ou ao chão, ou utilize calhas.
Uma vez que os idosos são considerados um grupo de risco e, neste local a população é maioritariamente idosa, os acidentes domésticos acontecem com bastante frequência e afectam a qualidade de vida da pessoa lesada mas também de todos os seus familiares. É assim, bastante importante que a população e os seus cuidadores tomem conhecimento sobre estes assuntos, de forma a prevenir um pouco que ocorram tantas quedas e acidentes em casa.
Posto isto, o envelhecimento é um processo complexo em que ocorrem alterações nos diferentes órgãos e sistemas do organismo, diminuindo a eficácia, capacidade de adaptação e a funcionalidade. Contudo, as quedas não fazem parte do processo de envelhecimento, nem podem ser atribuídas ao facto de se ter idade avançada, porque em qualquer idade estamos sujeitos a cair e os dois aspectos (quedas e envelhecimento) não devem ser associados um ao outro. Segundo a Direcção Geral da Saúde: “Morre-se mais por quedas e outros acidentes domésticos do que pela Diabetes”. As quedas são de facto uma ameaça real à capacidade de viver de modo autónomo e constituem um problema sério de Saúde Pública, cujo peso sócio-económico tem acompanhado o aumento da população idosa. Assim, justifica-se uma constante intervenção nesta área, sobretudo porque a realidade portuguesa mostra que os últimos anos de vida são, muitas vezes, acompanhados de situações de fragilidade e de incapacidade frequentemente relacionadas com situações susceptíveis de prevenção. É fundamental a intervenção de todos os profissionais para que este tipo de situações diminua.
Na sequência das visitas às habitações efectuamos uma acção de sensibilização/formação às profissionais do Centro Social e Comunitário de Safara de modo a podermos informá-las sobre os riscos a que estas pessoas estão expostas. Uma vez que algumas destas profissionais realizam apoio domiciliário às habitações que visitamos foi de facto uma mais-valia podermos ajudar as pessoas neste sentido. A apresentação foi composta com a informação abordada em Barrancos sobre “Como prevenir os acidentes domésticos?” como se pode verificar no decorrer da descrição desta semana. Os aspectos acrescentados foram as imagens das habitações com os riscos detectados em cada divisão. Ficam agora algumas imagens desta sessão, bem como o diploma para esta acção.
E desta forma terminou mais uma semana de trabalho, sempre preenchida com bastantes actividades essenciais para uma futura Técnica de Saúde Ambiental! Um estágio deveras gratificante e do qual estou a gostar muito de realizar J
Uma semana fantástica para todos J